O Partido dos Trabalhadores (PT) lançou na última sexta-feira (27) um novo vídeo publicitário nas redes sociais com uma forte carga ideológica que acirra o antagonismo entre classes sociais. A peça adota uma das narrativas favoritas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Utilizando recursos visuais que lembram imagens geradas por inteligência artificial, o vídeo mostra trabalhadores humildes, visivelmente cansados, carregando sacos enormes com a palavra “imposto” estampada. Em contraste, indivíduos retratados como ricos — brancos, engravatados — seguram pequenas bolsas com a mesma inscrição.

As cenas são acompanhadas por uma narração que reforça o tom de denúncia. O texto diz que, no Brasil, quem vive de salário arca com tributos até sobre itens básicos, como pão, gás de cozinha e medicamentos. Já os “super ricos”, segundo o vídeo, contribuiriam proporcionalmente muito menos. “Imposto é necessário, mas justiça também é”, afirma o locutor.

A propaganda apresenta o projeto de reforma do Imposto de Renda como um esforço do governo para corrigir essa suposta distorção. A proposta prevê aumento da carga para bilionários, bancos e plataformas de apostas online. “Taxação BBB dos bilionários, bancos e bets”, resume o vídeo, apelando a slogans populares. O material termina com um chamado à militância: “Mostre que você tem inteligência, mas não é artificial. Lute por justiça. Espalhe esse vídeo por aí.”

A linguagem e o visual do material remetem a uma estética ideológica marcada por dualismos simplistas: pobres virtuosos oprimidos por uma elite insensível. A construção narrativa lembra as antigas representações literárias do século XIX, como em Os Miseráveis, de Victor Hugo, ou Germinal, de Émile Zola, nas quais o sofrimento das massas é exaltado e a esperança repousa sobre um Estado redentor.

Na leitura política do governo federal e de seus estrategistas, como o publicitário Sidônio Palmeira, responsável pela comunicação institucional do Planalto, essa dicotomia serve de base para a campanha de 2026: mobilizar os eleitores a partir da retórica do conflito entre classes.

No entanto, há dúvidas inclusive dentro do próprio partido. Estudos realizados pela Fundação Perseu Abramo em eleições passadas indicaram que grande parte da população pobre, especialmente nas periferias de cidades como São Paulo, aspira à ascensão social por meio do trabalho e do empreendedorismo — e não por depender do assistencialismo estatal. Essa visão é ainda mais presente entre o eleitorado evangélico, que representa cerca de 35% da população, e que vê o sucesso financeiro como algo desejável e legítimo.

A proposta de reforma tributária mencionada no vídeo enfrenta obstáculos no Congresso. O plano do governo é compensar a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 com a taxação dos mais ricos. A previsão é que o texto seja debatido na Câmara e no Senado a partir do segundo semestre. Atualmente, aproximadamente 43,4 milhões de brasileiros declaram IR. Se a nova regra for aprovada, esse número cairia para cerca de 15 milhões, numa população ativa de 106 milhões de pessoas.

Apesar do apelo à “justiça fiscal”, lideranças no Congresso têm criticado a condução da política econômica do governo Lula. A avaliação geral é de que, em vez de buscar um equilíbrio nas contas públicas, o Executivo ampliou os gastos e empurrou para o Legislativo o ônus de encontrar formas de aumentar a arrecadação — sem tocar em despesas nem promover reformas estruturantes.