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Após receber internet, tribo indígena fica viciada em ‘vídeos picantes’ e deixa de caçar

A chegada da internet trouxe uma reviravolta inesperada para os marubos, uma tribo indígena que habita o remoto Vale do Javari, no oeste do Amazonas. Em abril, os marubos receberam acesso à internet via satélites da Starlink, empresa de Elon Musk, o que provocou uma mudança radical em seu estilo de vida.

Antes, a falta de acesso à internet era uma limitação significativa para os marubos, cujas povoações ao longo do rio Ituí estão entre as mais isoladas do mundo. A região não conta com redes de fibra ótica, tornando a comunicação com o mundo exterior praticamente inexistente. No entanto, a Starlink começou a fornecer sinal de internet para a Amazônia em 2022, levando a conectividade para uma das últimas fronteiras offline do planeta.

Quem são os marubos



Os marubos, com uma população aproximada de dois mil indivíduos, habitam o Vale do Javari, uma terra indígena demarcada pelo governo federal em 2001. Atribuindo-se à caça, pesca e agricultura para sua subsistência, eles mantiveram um estilo de vida preservado por séculos, devido à localização remota e ao limitado contato com forasteiros. Seu idioma próprio, a língua marubo, e os rituais religiosos que incluem o consumo de ayahuasca, refletem uma rica herança cultural.

O impacto da internet

Com a chegada do sinal da Starlink em abril deste ano, os marubos descobriram rapidamente os benefícios e os malefícios da internet. A possibilidade de solicitar ajuda emergencial de forma instantânea e de se comunicar com amigos e familiares através das redes sociais trouxe um senso de conectividade inédito. Contudo, esse acesso irrestrito também expôs a comunidade a conteúdos pornográficos, levando a um vício preocupante.

Alfredo Marubo, em entrevista ao New York Times, descreveu como a exposição súbita à pornografia alterou os comportamentos sexuais dos jovens da tribo. Enoque Marubo, uma das lideranças do grupo, destacou a mudança drástica na rotina local, onde os membros deixaram de realizar atividades essenciais como caça, pesca e plantio. “Mudou tanto a rotina que foi prejudicial. Na aldeia, se você não caça, pesca e planta, você não come”, afirmou.

TamaSay Marubo, outra liderança, ressaltou o impacto negativo principalmente entre os jovens: “Quando a internet chegou, todos ficaram felizes, mas agora as coisas pioraram. Os jovens ficaram preguiçosos. Estão aprendendo os costumes dos brancos”. Além do vício em pornografia, muitos membros passaram a dedicar grande parte do dia nas redes sociais, com o Instagram sendo particularmente popular.

O futuro da internet entre os marubos

Apesar dos desafios enfrentados no primeiro mês de acesso à internet, muitos marubos, inclusive suas lideranças, reconhecem que os benefícios potenciais superam os danos. “Acho que a internet nos trará muito mais benefícios do que danos”, disse Enoque. O apelo de TamaSay também reflete essa visão: “Por favor, não tire nossa internet”.

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